sábado, 18 de fevereiro de 2012

As perspectivas


   Deitado ali, naquele piso que lhe dera tanto prazer, porém está agora se contorcendo. Pessoas o rodeiam, umas duvidam da gravidade do que acontecera “Levanta daí, Du”, “Não adiantar fazer cera, cara, isso não é futebol”. As lágrimas, no entanto, não mentiam que aquilo poderia ser sério, pelo menos o desespero não seria outra coisa que honesto e os que outrora não acreditavam, viam naquele momento a virilidade se desfalecendo. Aquele que há segundos atrás corria, pulava, vibrava, é carregado por companheiros. Chorava copiosamente o garoto, seu joelho não lhe respondia, doía-lhe o movimento antes natural. A tragédia para quem ama, qualquer coisa que seja, é não ser apto a fazer isso.

   Roubei a bola num passe precipitado feito pelo armador do outro time. Saí sozinho no contra-ataque, seria uma bandeja simples, calmamente saltaria, com o joelho direito flexionado e o esquerdo estendido, com a bola na mão mais hábil jogaria suavemente o objeto contra a tabela, marcando assim mais dois pontos. O previsível não aconteceu.

   O Du foi esperto no lance, como sempre. Antecipou-se ao passe e saiu rapidamente para colocar nosso time na frente, estávamos perdendo por um ponto. Uma falha apenas ele cometeu, não percebeu que um dos adversários foi ao seu encalço para tentar pelo menos evitar a cesta. O Du não se preparou para o leve, porém que o fez desequilibrar, empurrão de seu algoz. Apoiou o pé de forma estranha, mas não me pareceu grave, tanto que gritei pra ele se levantar logo e cobrar o lance livre de bonificação.

   Quando vi que o passe iria ser interceptado, corri para tentar pelo menos evitar a cesta deles. Mas não fiz a falta direito, nessas horas tem que meter a marretada, aí o outro só vai ter os lances livres, não tem perigo de conseguir uma jogada para três pontos. Fiz errado, só consegui um empurrão, ele conseguiu a bandeja e o juiz ainda marcou falta, que foi cobrada por outro companheiro, já que aquele saiu chorando de dor.

   Senti um leve toque nas minhas costas que me fez desequilibrar. Deveria ter caído no chão, mas o instinto fez com que eu tentasse apoiar a perna direita naquela superfície. Apenas com as pontas dos dedos senti meu pé tocar o piso, essa manobra fez quem com que esse membro fizesse um movimento para dentro e torcesse meu joelho. Ouvi um estalo, a dor tomou conta do me corpo inteiro, não só daquele lesado, eu sabia o que tinha acontecido. Não controlei o choro, não se sente vergonha quando o desespero é a única coisa que se faz presente.

4 comentários:

  1. Formalisticamente falando, achei bem legal sua narrativa. Senti-me como se eu próprio (também já joguei basquete) estivesse correndo com a bola e fosse abruptamente interrompido pelo adversário, o que geraria um dor que, como você mesmo ressaltou, ultrapassasse o físico e chegasse ao psicológico desespero, dada a gravidade da lesão.
    Saindo desse método de leitura criado pelos russos, isso foi meio que autobiográfico ou é impressão minha?

    Parabéns e abraço.

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    1. Boa, Murilo. Foi exatamente isso que eu quis ressaltar no conto, o aspecto formal, usando a focalização para se chegar no conteúdo. Fico bastante feliz que tenha gostado.

      Sim, é meio auto-biográfico, já que talvez eu não tenha talento para sair desse autobiografismo. Acho que tentei usar o acontecimento como motivo para o resto, que é universal: os sentimentos, visões etc.

      Muito obrigado e grande abraço.

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  2. Nunca comentei, mas esta é uma das melhores das historias que já tive o prazer de ler, tu deverias escrever um livro

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    1. Muito obrigado mesmo pelo comentário. Vamos ver se um dia consigo publicar algo.
      Agradeço de novo e apareça mais por aqui.
      Abraço.

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