sábado, 15 de setembro de 2012

À necessidade


Ainda não era tarde o suficiente para eu fazer o que iria naquela noite, mas o fiz, com motivos o suficiente para não me arrepender. Falam tanto sobre a necessidade de descarregar sua respectiva energia extra, pressupondo-se que a tenha, que eu caí nessa; precisava daquilo; porém, infelizmente não puder ir à academia naquele dia. Vigor em excesso não havia, mas em casos como esse se encontra o que é indispensável para que se satisfaça certo desejo.
O ônibus passou relativamente atrasado. Pelo horário da companhia, que não quer dizer lá muita coisa, estava doze minutos, quase treze, atrasado; o que, de certa maneira, acabou por me deixar um pouco menos calmo.
Estava dentro daquele móvel desajeitado, procurando um assento. Achei-o atrás de uma gorda que o escondia quase por inteiro. Digo, o ônibus não estava lotado, havia um ou outro lugar para se sentar, de qualquer modo, o espaço que ela ocupava ali era absurdo. Ela sentava em bancos duplos, teoricamente para duas pessoas, no qual, no caso aqui relatado servia para ela, mais sua pequenina bolsa. Aquele exagero de mulher ainda fazia questão de sentar-se no primeiro banco, obstruindo a passagem para alguém que fosse corajoso o suficiente para tentar arranjar-se ao lado daquela enormidade. Além de tudo isso, que até hoje me enoja, ela estava vestindo óculos escuros enquanto que o sol já tinha desistido há mais de meia-hora.
Andava numa cadência agonizante aquele veículo. E aquilo na minha frente. Eu pensara em mudar de lugar, mas já era tarde demais, os bancos todos já haviam sido tomados e ainda haviam passageiros em pé. Uma bolsa, entretanto, estava sentadinha. Ousam colocar em questão minhas justificativas, que besteira!
Em um ponto do caminho, ela abriu um saco no qual deveriam conter uns três pães de queijo. Devorava aquilo. O asco me possuía cada vez mais e eu lembrava que não tinha ido à academia naquele dia. Pensei que se ela descesse num ponto sozinha, eu iria segui-la, iria estudar o local, iria,ahhh, iria!
Ela desceu sozinha, todo aquele complexo gorduroso, caindo de um lado para o outro numa preguiça que me avassalava. Decidi segui-la. Ela morava numa casa grande demais, que estava escura, aparentemente INABITADA naquele momento. Ahh, sentia meu braço fraco, maldita falta da academia, preciso me exercitar sempre.
Eu não tinha um plano, não sabia como agir. Não havia roupas extras, nada. Porém, a escolha já fora tomada.
Ela entrou, por um descuido não trancou imediatamente o portão, estava em casa, não havia perigo. Esperei uns minutos e o abri. Fez um barulho escandaloso, porém nada se manifestou. Porta também destrancada, música vindo de um cômodo. Na cozinha recheada de guloseimas achei um martelo de madeira, outro de aço. Peguei o segundo, chequei-o: parecia confiável.
Não poderia acender nenhuma luz, mas fotos ali existiam, na sala, ela sempre voluptuosa, pelo menos era o modo como eu queria enxergá-la.
Distingui de onde aquela música vinha: do banheiro, escutava-se o característico barulho de um chuveiro por trás daquela cantoria gorda.
Aberta, escancarada estava aquela porta do banheiro. Escondia-se um corpo enorme dentro daquele box. Não notou minha presença. Bati a porta do banheiro. Ela, com aquele corpão, foi corajosamente ver o que estava acontecendo. Assim que a cabecinha dela colocou-se para fora daquele cômodo, o martelo mecanicamente a acertou na parte de trás de sua cabeça. Não queria matá-la ainda, mas aquele objeto o fez. Daquele tamanho e tão fraca. Queria acertá-la diversas vezes, fazer meu exercício. Mas não, nem para isso aquele peso para o mundo me ajudou.
Nem pensei em limpar a poça de sangue dali. Eu estava transtornado, decidi ir a pé para a minha casa, mesmo com manchas em minha camiseta negra. Ninguém sequer reparou.
Abri a porta de casa, meu gato me saudou na sua maneira discreta. Guardei o martelo em minha cozinha. Depois iria me livrar daquilo.
Coloquei uma roupa apropriada e fui correr um pouco. Eu precisava do meu exercício!